segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Carta aberta ao Senhor Presidente do Governo Regional dos Açores sobre distâncias na ilha do Pico

Excelentíssimo Senhor Presidente do Governo Regional dos Açores,

Chamo-me Ivo Sousa, tenho 29 anos e sou investigador no Instituto de Telecomunicações, polo do Instituto Superior Técnico - Universidade de Lisboa. No entanto, o que tenho mais orgulho, e que indico sempre na minha biografia de artigos científicos dos quais sou autor, é o facto de ser natural da ilha do Pico.

Desde há 12 anos que estou ligado ao Instituto Superior Técnico, o que significa estar a maior parte do tempo a cerca de 1700 km longe da minha terra natal. Contudo, isso nunca me impediu de seguir atentamente o que se passa e acontece na ilha Montanha, perceber melhor o seu passado e imaginar o seu futuro. Tendo por base estas premissas, o facto de gostar de números e destes serem o meu instrumento de trabalho, decidi partilhar consigo um pequeno estudo que fiz sobre distâncias na Ilha do Pico.

Como é do seu conhecimento por certo, o Pico é uma ilha pequena em população (14148 habitantes - Censos 2011) mas relativamente grande em área (444,97 km2 - SIARAM); aliás, o Pico é 1,4 vezes maior do que a República de Malta (316 km2 - Wikipédia), sabia? Esta relação população/área torna não só o Pico como a terceira ilha dos Açores com menor densidade populacional (após Corvo e Flores - PORDATA) como também faz com que os seus habitantes estejam bastante dispersos entre si.

Prova desta dispersão geográfica são os dados da tabela anexa compilada por mim, onde estão expressos os habitantes de cada uma das freguesia da ilha do Pico (Censos 2011) e as distâncias de condução (com base no site pt.distanciacidades.com) entre cada uma destas freguesias e cada uma das três vilas existentes na ilha (Lajes do Pico, Madalena e São Roque do Pico). Fazendo a média simples destas distâncias (soma das distâncias de cada freguesia a dividir pelo número de freguesias) verifica-se que a vila de São Roque do Pico é, em média, a que fica mais próxima das restantes freguesias da ilha (20,7 km), enquanto a vila da Madalena é a que fica mais distante (24,6 km).

No entanto, estas médias simples não têm em consideração a população de cada freguesia. Para um estudo coerente e com sentido, é essencial fazer o cálculo das médias ponderadas das distâncias, ou seja, somar os produtos entre a distância e a população de cada freguesia e dividir pelo número total de habitantes. Verifica-se que a vila de São Roque do Pico é, em média, a que fica mais próxima da população de toda a ilha do Pico (20,0 km), a vila da Madalena fica, em média, 1 km mais distante (21,0 km), enquanto a vila das Lajes do Pico é a que fica mais longe (21,6 km).

Para além de médias, também é interessante analisar alguns valores absolutos. Veja-se então o caso da distância máxima entre uma certa freguesia do Pico e cada uma das vilas. Resumindo, obtém-se a partir da tabela anexa:
  • Lajes do Pico - Bandeiras: 36,1 km
  • Madalena - Calheta de Nesquim: 51,3 km
  • São Roque do Pico - São Mateus: 34,2 km
Com estes dados conclui-se que a vila de São Roque do Pico é, em termos absolutos, a que apresenta a menor distância para qualquer freguesia da ilha do Pico. Por outro lado, existem zonas na ilha Montanha que superam os 50 km de distância para a vila da Madalena.

Outro valor que tem interesse em ser analisado é a percentagem de população distante de cada uma das vilas em 30 km ou mais. Olhando de novo para a tabela anexa verifica-se o seguinte:
  • Lajes: 33% (4685 habitantes em 14148)
  • Madalena: 36% (5123 habitantes em 14148)
  • São Roque: 17% (2417 habitantes em 14148)
Estes dados indicam que cerca de um terço da população está sempre a 30 km ou mais das vilas das Lajes do Pico e da Madalena, enquanto mais de quatro quintos da população da ilha do Pico está a menos de 30 km da vila de São Roque do Pico.

A distância deve ser tida em consideração em muitas situações. Por exemplo, nas áreas da poluição e da poupança, fazer menos 1 km em centenas de milhares de viagens significa uma poupança considerável em combustível, o que por sua vez origina menos gastos de importação e de transporte por parte da Região Autónoma dos Açores.

Espero que este estudo lhe seja útil em algumas decisões que sua Excelência e o seu elenco governativo têm que tomar. Sei que estas decisões são bastante complexas e contemplam sempre algumas dúvidas. Contudo, uma certeza posso afirmar pela minha experiência: os números nunca me deixaram ficar mal!

(ver também:
Haja saúde!

Post scriptum: Esta carta aberta foi enviada para o correio electrónico da Presidência do Governo Regional dos Açores, contacto este que está disponível na página oficial do Governo Regional dos Açores.